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Numa mansão em East Village, em Manhattan, um jovem bruxo herbologista — Irei chama-lo aqui de "Bob" — de 24 anos, cultiva em sua pequena estufa no terraço, uma coleção de Mimbulus Mimbletonia. A planta mágica,  semelhante a um cacto, esta na lista das mais raras do mundo bruxo graças ao seu difícil cultivo e mais difícil ainda adaptação a qualquer clima diferente ao da quentíssima Assíria. Outra lista que a planta faz parte, é a dele plantas mágicas com risco de desaparecer do mapa. Por causa dessa segunda lista, a venda da planta passou a ser proibida e Bob teve de aderir suas oito mudas iniciais no famoso — porém quase impossível de ser localizado — MNBA (Mercado Negro Bruxo Americano), em algum lugar do Harlem. O interesse? Após fervido, o pus liberado pela planta possui propriedades alucinógenas fortíssimas.

Cheguei em sua casa no primeiro dia de Julho e a chuva havia deixado seu terraço molhado, refletindo no chão de madeira as luzes dos prédios maiores ao redor. Havia o procurado para bater um papo, conhecer mais sobre o cultivo e provar do seu produto. Dentro da estufa, uma pequena mesa de madeira ficava no centro comportando um jogo de chá de porcelana, junto de dois banquinhos. Sentamos um em cada lado da mesa. Desde 2014, quando iniciou o cultivo, Bob já vendeu mais de cinco mil frascos com musgo de 2Mim — como a planta é conhecida entre os usuários— para várias partes do mundo. Ao ser perguntado sobre qual o local campeão de pedidos, a resposta veio rápida: "Londres". O jovem explica que o motivo de possuir um público maior em Londres é a solidão dos moradores da cidade. "Ingleses costumam ser bastante solitários, precisam de algo pra sair de suas realidades entediantes". Bob a chaleira e despejou um frasco de pus branco na água quente e a tapou de volta. "Juntaram a cura do tédio com outra coisas que eles gostam, chá".

Eu percebi que as plantas possuíam pequenos coletores "plugados" em cada "poro" por onde o pus era liberado. Era como se a estufa fosse uma pequena fazenda e, as 2Mim, vacas sendo ordenhadas. Bob encaixava os coletores sempre que a planta atingia 45 cm de altura, ou melhor, sua fase adulta. Uma Mimbulus Mimbletonia desenvolvida por produzir até 1 litro de pus por mês.

Nosso chá ficou pronto, mas a vontade que eu estava de bebe-lo desapareceu assim que seu cheiro tomou conta do lugar. Parecia tomate estragado. Bob encheu minha xícara e depois a dele, pedindo para que eu relaxasse o corpo antes do consumo. Era impossível relaxar totalmente com o aquele odor, mas um pequeno esforço foi feito por mim. A curiosidade era maior. 

Antes do primeiro gole, perguntei se algum cliente já passou mal fazendo aquilo e ele respondeu apenas "não", virando a xícara inteira de uma única vez. Eu respirei fundo e copiei o gesto.

Não demorou muito para sentir os primeiros efeitos do chá. A sensação de corpo leve, a visão turva e a mente girando chegaram nos primeiros minutos. Me lembrou bastante o efeito do chá de visgo do diabo, mas um pouco mais intenso. Eu apoiei a cabeça sobre a mesa e olhei para o lado, observando as luzes refletidas no chão que agora dançavam loucamente. Era como se os prédios estivessem balançando durante um terremoto grau 7. Bob estava sentado na mesma posição, recitando algum mantra. Eu estava muito confuso para entender. Por fim, eu vomitei no jeans não uma, mas duas vezes. E eu me larguei no chão, abraçando os joelhos, vomitado, até que tudo voltasse ao normal.

O efeito durou aproximadamente três horas; foi o tempo que eu fiquei parado olhando para o teto de vidro até escurecer e as luzes do terraço acenderem automaticamente. Ainda estava com a sensação de corpo leve mesmo com a visão recuperada. Bob me ajudou a voltar para o banco e me ofereceu um frasco de pus de 2Mim. "Tente não vomitar dessa vez", brincou. Eu fui mais ousado, perguntando se poderia ficar com uma muda da planta para o laboratório do Pasquim. Atualmente, laboratório possui bastante material ilegal, mas liberado para estudo pelo MACUSA. Bob torceu os lábios, era ciumento com suas plantas, mas se levantou e voltou com um vasinho contendo uma mini Mimbulus Mimbletonia. Eu agradeci, sem tentar apertar a sua mão. Nossa conversa terminou pouco antes das nove da noite, quando precisei voltar para a Sede do Pasquim com meu jeans sujo de vomito.

Até o fechamento desta matéria, minha planta continua viva no laboratório em seu pequeno vaso.

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